Estudo no Reino Unido confirma que a versão dominante do vírus pode colapsar mais os hospitais em países com baixa taxa de imunização
O maior estudo até agora sobre a virulência da variante delta do coronavírus traz dados preocupantes, principalmente para os milhões de pessoas do mundo em desenvolvimento que ainda não receberam sequer uma dose da vacina.
O trabalho é centrado em mais de 43.000 pessoas infectadas com coronavírus na Inglaterra. A média de idade da população estudada é de 31 anos. 80% se infectaram com a variante alfa, detectada originalmente no Reino Unido, e 20% com a delta, registrada pela primeira vez na Índia e que hoje em dia é a dominante na Espanha e em muitos outros países.
74% de todos os participantes não estavam vacinados e 24% receberam só uma dose. Por isso o trabalho não serve para entender a situação atual em países como a Espanha onde a variante delta é dominante, mas a imensa maioria da população em risco alto de covid-19 está completamente imunizada.
Os resultados do estudo, publicados no sábado na revista médica The Lancet, mostram que os infectados com a delta corriam o dobro do risco de ser hospitalizados por covid-19 do que aqueles que tinham a alfa.
Gavin Dabrera, médico da Agência de Saúde Pública do Reino Unido e coautor do estudo, ressalta que a imensa maioria dos participantes não estava vacinada e isso é fundamental para entender bem os resultados. O trabalho foi realizado entre 29 de março e 23 de maio deste ano. “Agora sabemos que as vacinas dão uma proteção excelente contra a variante delta, que no Reino Unido já é responsável por 98% dos casos registrados”, diz Dabrera em um comunicado de imprensa. “É vital que todos os que ainda não receberam a vacina completa o façam o quanto antes”, acrescenta.
A variante delta do coronavírus foi detectada pela primeira vez em outubro de 2020 na Índia. Desde então esta versão do vírus se expandiu por todo o mundo e se transformou na dominante, vencendo assim a variante alfa, ou britânica. A alfa já era 90% mais contagiosa do que as versões anteriores do patógeno e um estudo no Reino Unido também a associou com uma mortalidade 58% maior. De qualquer modo, esse último dado não foi confirmado em outros países.
A variante delta tem pelo menos três mutações que a tornam potencialmente mais perigosa. Vários estudos descobriram que essa forma do SARS-Cov-2 era 50% mais contagiosa do que a variante alfa. Um estudo preliminar na Escócia sugeriu que a delta duplicava o risco de hospitalização, um dado que o trabalho da Inglaterra agora confirma. O estudo escocês determinava a variante presente em cada paciente usando um PCR, enquanto o atual usou o sequenciamento completo do genoma do vírus, um método muito mais confiável.
No estudo atual, um em cada 50 pacientes foi hospitalizado. A equipe médica levou em consideração vários fatores que agravam a infecção como a idade, a raça e a vacinação. Após ajustar esses e outros indicadores viram que a delta aumentava o risco de internação 2,26 vezes em comparação com a alfa.
Há tão poucos vacinados nesse estudo, 2%, que os resultados não servem para mostrar se a variante delta aumenta a gravidade da doença e o número de internações entre os vacinados. A maioria dos estudos publicados até hoje mostram que não: as vacinas podem ser sensivelmente menos eficientes para evitar contágios com a delta, mas continuam sendo efetivas para evitar a covid-19 grave e a morte.
“Qualquer surto com a variante delta entre pessoas não vacinadas significará uma carga maior aos serviços hospitalares”, diz Anne Presanis, estatística do Conselho Médico do Reino Unido e coautora do trabalho. A vacina reduz drasticamente as possibilidades de que um infectado com a delta tenha a doença, precise de internação e morra, frisa.
Os autores do estudo reconhecem algumas limitações em seu trabalho. Uma muito importante é que não foi possível levar em consideração as doenças prévias dos hospitalizados, um fator essencial pois pode complicar a infecção.
“A mensagem mais importante que o estudo nos deixa é que a variante delta significa um risco somente nos que não estão vacinados”, ressalta Marcos López, presidente da Sociedade Espanhola de Imunologia. “Além disso, o estudo é muito escravo do momento em que foi feito, quando a delta ainda não era dominante. Por exemplo, agora na Espanha mais de 90% dos casos são de delta e não estamos vendo uma maior taxa de hospitalização e de gravidade”, afirma.
Fonte: El País
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